Precisamos aprender a amar as mulheres
De uma mulher com dificuldade em amar outras mulheres.
Um título chamativo, mas não estou falando de amores românticos aqui.
A figura da mulher já foi alvo de diversos significados moldados ao seu tempo e à sua materialidade histórica. Seja uma figura de desejo, de fertilidade, de tentação, de demônios. Seja por homens ou por outras mulheres, a figura "mulher” teve um peso negativo em sua existência muito mais que a figura do ser homem, sendo objetificada e dominada ou tratada como rival e inimiga.
Existem muitos textos que falam sobre a rivalidade feminina e eu sempre acho de suma importância que as mulheres estejam sempre os lendo, para que a sua consciência esteja sempre em alerta sobre os seus comportamentos em relação às mulheres que cercam seus meios sociais.
Consegui identificar isso em mim com 22 anos, quando eu sentia um ciúme excessivo e uma extrema comparação que se apoderava do meu corpo sempre que uma outra mulher se aproximava de mim.
Acho interessante fazer uma retrospectiva da minha história e relacionar isso tudo ao bullying que sofri por garotas mais bonitas e mais ricas do que eu no Ensino Fundamentl e, também, à sociedade na qual estou inserida. Assim, gostaria de chamar a sua atneção a isso também.
Quando uma nova mulher, que você nunca conheceu na vida, entra na sua sala de aula, da escola ou faculdade, você olha para ela com indiferença, interesse em saber mais sobre ela ou com um certo incômodo?
A sua relação com suas amigas é uma relação de apoio em seus projetos pessoais, relacionamentos, sonhos e carreiras, ou na verdade vocês só estão competindo para ver quem pega mais, usa a melhor roupa e consegue a melhor avaliação acadêmica?
A desconhecida do ônibus que se parece exatamente com o que você gostaria de ser te causa inveja ou é um combustível para você correr atrás dos seus sonhos?
Refletir nessas três perguntas pode te levar a muitas outras ainda mais profundas, pessoais e íntimas, chegando em um ponto onde você se sentirá bastante incomodada. E é bom que incomode! Quer dizer que chegou na raiz, aonde realmente dói.
Uma mulher se amar como mulher e se entender como suficiente é uma grande jornada que leva sua vida inteira. Uma mulher aprender amar outra mulher e se achegar a ela com coração sincero é mais um outro processo que leva muita terapia, autoconhecimento e muitas surras que sua própria consciência dá em você mesma.
E está tudo bem, sabe? Não nascemos formadas.
Nós nos formamos e formamos o meio ao longo de toda a nossa existência.
Ultimamente, eu tenho olhado para as minhas amigas com mais amor e como isso é libertador. Ter com quem contar, ter para quem contar todas as minhas presepadas e conquistas, ter com quem falar sobre as coisas mais banais e mais obscuras dos nossos corações é maravilhoso.
Antes, havia algum senso esquistio de competição dentro de mim que me fazia sentir como se eu estivesse pra trás e precisasse alcançá-las a todo custo, mesmo que nossas jornadas fossem diferentes e tivéssemos estilos de vida e propósitos bem diferenciados. Isso já me fez sofrer bastante. Me isolei e quase fui de Vasco uma vez aí.
Todo aquele discurso que rolava (e ainda rola) ali por meados dos anos 2010/2015, quando eu cursava a escola, onde era mais irado para uma menina ser amiga dos meninos do que das meninas, já que “as meninas só tinham papos fúteis”, ferra muito com a cabeça da gente.
Aí, o tempo passa, você tem 22 anos, está abandonada por todos aqueles amigos e vê mulheres incríveis se aproximando de você, com interesse em sua amizade.
E, então…?
E, então?!
E então que você não sabe o que diabos fazer!
Você sempre viu o gênero feminino como algo inferior, pequeno, fútil e traiçoeiro. Como reverter isso agora que você está jogada no mundo real e entende o quanto todo esse pensamento é problemático e terrível?
Com muita terapia e amor.
Terapia para você se curar do que quer que tenha te causado e te influenciado a crescer com essa minhoca demoníaca na cabeça. Amor para te ajudar a crescer e a olhar para as outras com mais humanidade.
Tenha conversas profundas com suas amigas/colegas. Tente chegar, no possível, na carne do coração delas, pois ali você vai ver que não há nenhuma monstra ou competidora ou inimiga: é só mais uma humana como você, com medos, sonhos, traumas, qualidades e defeitos.
E, quando a gente abaixa nossa guarda, desce do salto, olha para as outras com humildade e interesse genuíno, essa crença misógina vai se dissipando de pouco em pouco.
Faça (boas) amigas, conheça mulheres.
Encare as qualidades que você encontra em outras mulheres, e não em você mesma, como um impulso, uma motivação em melhorar o que quer que você ache que precise ser melhorado em você. Seja sua paciência, sua alegria, sua garra, sua fé.
Não veja os defeitos que você encontra em outras mulheres, e não em você mesma, como uma vantagem que você tem sobre ela. Encare-os como uma oportunidade que você tem de conhecê-las melhor, ajudá-las melhor no seu desenvolvimento como pessoa.
No final das contas, se nos desligarmos desse Campeonato da Mulher Mais Incrível do Mundo Versão 2025 que não existe, veremos que a realidade é mais simples e complexa do que pensamos. E as mulheres são mais simples do que pensamos, dentro de toda a sua complexidade como humanas. E que em vez de sermos um incômodo uma para outra, que venhamos ser cuidadas e amadas umas pelas outras.
Ame mais. Você não está em uma competição.
Essa corrida não existe.
Atenção! Não vá embora ainda!
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A autorreflexão sobre como enxergamos outras mulheres é um passo essencial para que a sororidade não fique apenas no discurso, mas se torne prática cotidiana. Questionar ideias que nem nasceram de nós, mas que aprendemos a reproduzir, é parte do processo de cura e libertação. Isso não significa ser amiga de todas as mulheres do mundo, mas sim escolher ser humana, justa e empática com quem cruza o nosso caminho. Excelente post, Serpa! Um prazer conhecer seu trabalho. 💜
Serpa, adorei o seu texto! Falei disso num restack, mas como não passei por esse processo, sempre me pergunto porque algumas mulheres preferem tanto não ter amizades com outras mulheres. Você clareou muito isso pra mim. Fico feliz que você esteja aprendendo a ressignificar as suas amizades com outras mulheres e se livrar dessas amarras da competição implícita!