Parentescos e amizades falidas
É difícil não se sentir sozinha mesmo rodeada de parentes e amigos.
Hoje eu andei pensando sobre amizades e famílias, e me peguei dentro de uma quarta-feira mais sombria que qualquer outro dia da semana.
Pensar nos seus atuais relacionamentos e em como eles estão se desenvolvendo ou regredindo é um exercício que eu me pego fazendo dia após dia, hora após hora. Talvez por um senso de segurança, de querer me sentir segura nas relações em que faço parte. Talvez por ver uma movimentação agitada que nunca para em calmaria, apenas em mais agito.
Isso me causa uma ansiedade danada.
Somos todos instáveis, isso é verdade. Ninguém é o mesmo sempre. Estamos sempre em mudança, diferentes, porque os dias são diferentes. Vice-versa.
Entretanto, não sei se dá pra normalizar relações instáveis com essa justificativa. A desordem ser tratada como ordem, ou o caos como a calmaria, é estar tão alienado na bolha que você convive e faz parte que você já não enxerga mais o que é saudável e bom.
Ultimamente, estou envelhecendo. Estou envelhecendo de uma maneira que tem me trazido paz, mas, ao mesmo tempo, muita turbulência com pessoas que insistem em permanecerem crianças ou indiferentes.
Alguns amigos estão voltando ao posto de colegas. Já outros estão provando, sem querer provar, que são pessoas que me fazem bem. Novas pessoas têm se aproximado também. Parte da família eu nem converso há mais de mês.
Esse é um movimento constante da vida, porém, nesse mês de junho ele aconteceu de uma maneira muito explícita pra mim quando eu me vi passar pelo meu irmão na sala e ele sequer chegar um pouco para o lado para me dar passagem, como se eu fosse um ser espiritual ou até mesmo não existisse.
Sou bastante acostumada com esses tratamentos de silêncio e ser tratada como se não estivesse presente nos locais. Meu irmão tem me provado dia após dia como é possível ter laços sanguíneos com alguém e isso não signifcar nada. Vou explorar isso em outro texto…
Alguns amigos só aparecem para fazer cobranças infundadas de alguma coisa que eles acham que é o certo. Não tem um “oi”, ou um “como você tá?”. Não têm conversas triviais durante a semana, ou um “olha, vi isso e lembrei de você”. São apenas mensagens que brilham na tela quebrada do meu celular em busca de algo: satisfação ou favores.
Isso cansa, sabe? Cansa ser o confessionário, o saco de pancada, a empregada de pessoas que você se importa muito. Você as coloca em um pedestal, dentro do seu top 5 pessoas, mas, no fim, a relação é desigual de uma maneira muito gritante. E, então, o choque vem e você só se vê parada em frente à pessoa, como um filho que sofre negligência emocional dos pais e tenta mostrar o desenho que fez, mas não recebe o mínimo de atenção honesta por parte deles.
É vergonhoso, é gritante!
Tenho tentado me fechar mais. Não pra ser um túmulo, mas pra ser um quarto com uma porta com senha. Uma senha que eu disponibilizo para pessoas que, quando entram no quarto, gostam genuinamente de estarem ali, não porque tem empregados para fazerem suas vontades: mas porque podem estar comigo. Uma senha que eu tenho trocado a cada vez que vejo aquela diferença gritante de tratamento por parte de quem eu tinha confiado a chave de toda a casa.
Alguns parentes eu já expulsei de toda a casa, e apareço apenas com um sorriso no rosto ou um “oi” quando vejo por aí. Alguns antigos amigos, atuais colegas, tento manter meu coração seguro e não me forço a ir longe com eles.
Algumas amigas eu tenho tentado visitar mais, perguntar mais, me importar mais. Alguns parentes eu busco uma amizade que vá além do que o sangue dita.
E, quando você vê aquele tanto de gente indo embora da sua vida, depois que você filtra bem quem é confiável para se ter dentro do quarto do seu coração, a solidão pode até bater. E ela bate.
Você olha pra fora e, quando conta nos dedos das mãos, vê que não sobrou quase ninguém. E está tudo bem.
Uma questão de perspectiva.
Dê um giro de 180° e veja quem já está lá dentro desse quarto, te ajudando a lidar com a sua própria bagunça, elogiando os quadros que você pintou, propondo mudanças realmente boas no posicionamento dos móveis. Veja quem realmente se importa.
Grude nelas.
Não tem porquê continuar com relacionamentos falidos. Se a outra pessoa não quer, deixe-a ir.
Desligo,
Serpa.
Esse texto me fez lembrar de uma vez em que estava fora da minha cidade, cuidando da minha mâe hospitalizada. Era meu aniversário, estava sozinho,meio triste com tudo, em um quarto de hotel de um lugar que eu não conhecia. Absolutamente nenhum dos meus "amigos" da época me mandaram mensagem ou se quer se preocuparam em saber como as coisas estavam. Gente que eu convivi por 4/5 anos durante todos os dias da semana. No final, acabou me fortalecendo. Mas, depois disso, repensei muito como manejar minhas amizades.