Me transformei em um inseto por vários dias... e foi sufocante.
Acho que o Gregor Samsa fez eu pensar muito sobre mim...
O que eu quero dizer é: que merda ser um inseto!
Depois de algum tempo querendo muito ler A Metamorfose, de Franz Kafka, eu finalmente li. Comecei a ler em um sábado e terminar em uma terça-feira. Foram 4 dias querendo saber mais e mais e sentindo uma pontadinha de esperança de que o final seria melhor.
Sim, aqui têm spoilers!
E melhor, eu digo, no sentido de ver o Samsa de volta em seu próprio corpo e conseguindo se reerguer na vida, novamente.
Ultimamente, eu venho dormindo no lado contrário da cama: onde eu colocava os pés, hoje, eu estou deitando com a cabeça. Isso tudo porque, há alguns meses, uma barata subiu em cima de mim e eu fiquei com tanto nojo que resolvi começar a dormir ao contrário, já que, psicologicamente, aquilo fazia mais sentido e eu conseguiria dormir em paz sem o pensamento de “será que alguma coisa vai subir em cima de mim hoje?”.
Com isso, a primeira coisa que eu tenho visto quando acordo é uma parede branca, totalmente branca, e isto tem me causado uma sensação de sufoco já nos primeiros minutos do dia. Olho pela janela, meu corpo pesa e é como se o dia já começasse difícil pelo simples ato de tentar respirar.
Há dias em que eu acordo e penso em como o tempo corre. Já outros, eu gostaria que ele corresse mais.
Tentar fugir da realidade, não encará-la torna as coisas um pouco mais fáceis… mas não as resolve.
A instabilidade financeira, o movimento das pessoas (ou a falta dele), o latido dos cachorros, tudo isso pula na minha mente no primeiro minuto do dia e, agora, eu tenho vocabulário pra descrever isso: me sinto um inseto horroroso.
A sensação de estar sustentando tudo e a todos emocionalmente ou profissionalmente é, no mínimo, dolorosa. Suas articulações ficam frágeis e seus membros se tornam como patinhas finas de um inseto pesado, cheio de responsabilidades e arrependimentos dentro da casca. E aí, você tem dificuldade de levantar da cama e, ás vezes, nem deseja isso.
O tempo corre, o tempo voa e você continua zanzando no quarto de ansiedade sem conseguir fazer nada, mas o simples fato de estar acordada te traz um cansaço de mil maratonas. Como é descansar? Como é se sentir livre todas as manhãs para cumprir suas tarefas próprias, se esforçar e fazer o que se vê sentido? Fazia um tempo que eu não sentia nada disso.
Enxotada para o quarto pelo mundo, sendo alimentada por raspinhas de coleguismos, tentando manter sua humanidade em um quarto abafado pelo Sol da tarde é complicado. Uso “complicado” para não me complicar com as palavras.
Me vi em Samsa e por isso estava torcendo tanto para que ele conseguisse o controle da própria vida novamente. A cada parágrafo, eu sentia pena e desejava que, assim como, de repente, ele se metamorfoseou em um inseto, de um dia para o outro, ele também voltasse à sua vida normal. Talvez isso se reflita no meu desejo ardente de voltar a ter uma vida normal. Ou melhor: conquistar uma vida normal.
Eu estou conquistando uma vida normal. No possível, claro. E as minhas perninhas fininhas de um inseto monstruoso já têm ganhado um pouco mais de carne e força, mesmo que minha condromalácia patelar me impeça ainda de realizar muita coisa.
As coisas vão funcionando e vão se ajustando a medida que acordo todos os dias tentando ser um inseto mais leve, sem carregar tanta coisa, tantas pessoas, tantas responsabilidades que nem ao menos pedi pra ter ou são da minha alçada.
Está ficando mais fácil levantar da cama.
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